quinta-feira, 7 de abril de 2011

compartilhando leituras - terceiro encontro

Para a feira do livro
João Cabral de Melo neto

A Ángel Crespo

Folheada, a folha de um livro retoma
o lânguido vegetal de folha folha,
e um livro se folheia ou se desfolha
como sob o vento a árvore que o doa;
folheada, a folha de um livro repete
fricativas e labiais de ventos antigos,
e nada finge vento em folha de árvore
melhor do que o vento em folha de livro.
Todavia, a folha, na árvore do livro,
mais do que imita o vento, profere-o:
a palavra nela urge a voz, que é vento,
ou ventania, varrendo o podre a zero.

Silencioso: quer fechado ou aberto,
Incluso o que grita dentro, anônimo:
só expõe o lombo, posto na estante,
que apaga em pardo todos os lombos;
modesto: só se abre se alguém o abre,
e tanto o oposto do quadro na parede,
aberto a vida toda, quanto da música,
viva apenas enquanto voam as suas redes.
Mas apesar disso e apesar do paciente
(deixa-se ler onde queiram), severo:
exige que lhe extraiam, o interroguem
e jamais exala: fechado, mesmo aberto.


Iniciação literária (Carlos Drummond de Andrade, BoiTempo, Poesia completa, p.989

 Leituras! Leituras!
 Como que diz: Navios... Sair pelo mundo
voando na capa vermelha de Júlio Verne.

 Mas por que me deram para livro escolar
 a ‘Cultura dos Campos’ de Assis Brasil?
O mundo é só fosfatos – lotes de 25 hectares
-soja – fumo – alfafa – batata-doce – mandioca –
Pastos de cria – pastos de engorda.

 Se algum dia, eu for rei, baixarei um decreto
 condenando este Assis a ler a sua obra.

Liberdade (Fernando Pessoa)
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa…
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças…
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca…


“Ver o céu de verão é Poesia
Que ninguém vai prender num livro
Os bons poemas fogem.” Emily Dickinson


FAZ ESCURO MAS EU CANTO - THIAGO DE MELLO

Faz escuro, mas eu canto por que amanhã
vai chegar.
Vem ver comigo companheiro, vai ser lindo, a cor do
mundo mudar.
Vale a pena não dormir para esperar,
porque amanhã vai chegar.
Já é madrugada vem o sol quero alegria.
Que é para esquecer o que eu sofria.
Quem sofre fica acordado defendendo o
coração.
Vem comigo multidão, trabalhar pela
alegria.
Que amanhã é outro dia, que amanhã é
outro dia.

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