segunda-feira, 4 de abril de 2011

proposta do curso extendida ao blog

“Se, por e não sei que excesso de socialismo ou e barbárie, todas as nossas disciplinas devessem ser expulsas do ensino, exceto uma, é a disciplina literária que devia ser salva, pois todas as ciências estão presentes no monumento literário” – Roland Barthes (Aula)
A Literatura enquanto arte de exploração máxima dos sentidos da palavra e das potencialidades do texto nos move a compartilhar experiências de leitura: “A literatura é oniforme, metamorfoseante, ela é a nossa chave de interpretação, é a nossa aposta, o nosso vetor potencializador da imaginação, transformador do real, motivador dos possíveis.”[1].
A polêmica finissecular da morte do livro provocou a mania mundial dos clubes de leitura. Em casa, nas praças, livrarias, Cafés, Sites...Muitas vezes eles nascem desligados da institucionalização acadêmica e abordam temáticas específicas direcionadas à leitura da obra completa de determinados autores, como o famoso filme “Clube de leitura Jane Austen”. Outras vezes, os clubes são maratonas de leitura de livros de forma indiscriminada. Vence a quantidade, independente da qualidade.
A proposta do presente curso de extensão é voltada para desenvolver, nos leitores, sensores da qualidade estética do texto literário. Contemplar um livro literário em coletividade é ampliar as sensibilidades estéticas e sociais. Trata-se de estender a disciplina Clube do livro literário, parte diversificada do Colégio de Aplicação, à comunidade acadêmica em geral, professores, técnicos, alunos da graduação e do colégio, que queiram vivenciar a leitura da literatura literária com alegria.
A Literatura é fundamental para a formação do cidadão crítico, aquele que reflexivamente posiciona-se sobre as escolhas literárias, sobre os acontecimentos políticos e sociais.
O texto de Roland Barthes citado na epígrafe desse projeto mostra a função social e a amplitude do texto literário, esse caráter interdisciplinar está presente em nossa proposta, por considerarmos muito enriquecedor o encontro de pessoas de especialidades variadas para conversar sobre a paixão pelos livros. Antônio Cândido considera a literatura um direito de todos, um direito inalienável, daqueles essencialmente necessários para a nossa vivência e não sobrevivência:
"A literatura corresponde a uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar forma aos sentimentos e a visão do mundo ela nos organiza, nos liberta do caos e portanto nos humaniza.[...] Uma sociedade justa pressupõe o respeito dos direitos humanos, e a fruição da arte e da literatura em todas as modalidades e em todos os níveis é um direito inalienável." (sO direito à literatura, 1989).
            Leyla Perrone-Moisés, autora de um livro chave em nossa concepção de texto literário, Altas literaturas, ao falar em outro contexto da importância da leitura dos clássicos para todos, nos reporta ao escritor de Capão Pecado, Ferréz, prova viva do alcance social da literatura: “oriundo de Capão Redondo, um dos bairros mais problemáticos da periferia de São Paulo, ele conta em entrevista como a literatura mudou sua auto-estima e como isso pode “contaminar toda a comunidade”. Ora, ao ser perguntado que livro mudou sua vida, a resposta foi: Madame Bovary de Flaubert!” (Literatura para todos, 2006.)
            O curso é uma provocação, convite, a todos que amam a literatura e querem compartilhar o que Rubem Alves chamou de gripe do vírus literário: experiências coletivas com a literatura, que só ocorrem quando há prazer, espanto, deslumbramento, susto, beleza, riso.
O projeto está fundamentado sobre uma concepção de literatura com intenção literária, ligada ao Elogio da forma[1], valores estéticos atemporais e renováveis. Segundo Perrone-Moisés (1999), tal concepção foi enfatizada na modernidade, quando as práticas experimentais dos escritores críticos foram associadas à reflexão sobre os valores clássicos, à tradição literária.
 Nossa concepção de literário contempla a literariedade dos Formalistas Russos, mas não se fixa nela. Não se trata de fechar o texto numa redoma que privilegia a forma descontextualizada. Todorov (2009), repensando o Formalismo, que ele mesmo ajudou a propagar, reconhece no livro A Literatura em Perigo, os resultados negativos de uma teoria puramente formal: O conhecimento da literatura não é um fim em si, mas uma das vias régias que conduzem à realização pessoal de cada um. O caminho tomado atualmente pelo ensino literário, que dá as costas a esse horizonte arrisca-se a nos conduzir a um impasse – sem falar que dificilmente poderá ter como conseqüência o amor pela literatura.
Para amar a literatura é preciso experimentá-la. Segundo os órgãos direcionados à educação, como o MEC, por exemplo, não é exatamente isso que vem acontecendo. “A leitura literária tem se tornado cada vez mais rarefeita no âmbito escolar”, diz o texto das Orientações Curriculares para o Ensino médio (2006). Ao verificar a falha dos Parâmetros Curriculares (2002) em priorizar gêneros não literários, o texto das orientações curriculares enfatiza a necessidade urgente do “letramento literário: empreender esforços no sentido de dotar o educando da capacidade de se apropriar da literatura, tendo dela a experiência literária.
Estamos entendendo por experiência literária o contato efetivo com o texto. Só assim será possível experimentar a sensação de estranhamento que a elaboração peculiar do texto literário, pelo uso incomum de linguagem, consegue produzir no leitor, o qual, por sua vez, estimulado, contribui com sua própria visão de mundo para a fruição estética.”  
Nessa perspectiva de desenvolver a fruição estética, o amor pela literatura, contamos com teóricos que são leitores apaixonados por livros literários, os já citados Leyla Perrone, Todorov, Antônio Cândido, como também Italo Calvino, Osman Lins, Paul Valéry, João Alexandre Barbosa e Lourival Holanda, dentre outros confrades espirituais do clube do livro literário.


[1] IDEM.



[1] ALMEIDA, Cristina. (2009). O elogio da forma literária nas poéticas de Osman Lins e Paul Valéry. Tese de doutoramento. Programa de pós-graduação em Letras, UFPE.  

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